domingo, 12 de julho de 2015

de Miguel de Carvalho


Olhar Opalino

A árvore lembra um cefalópode
suas folhas as ventosas
e o Outono humedece as palavras.

Elas enraízam-se no papel
enquanto o poeta sustém um tentáculo
e absorve a solidão enroscada na memória.

Deita-se e ascende no tempo.
Na paisagem as folhas são mudas
encerram vitórias anunciadas no gesto da escrita.

Na sombra da árvore a tinta queimada
a angústia visceral do molusco
elevam o verso à escala da noite.

A tinta negra escorre entre os grãos
retorna pelas raízes silenciosas.

Um sopro súbito de carne viva
dilacera o desejo oculto na copa.

miguel de carvalho
Santarém, 6-X-2007


(publicado na revista CORRIENTE ALTERNA, #1, Santiago do Chile, 2008)

Foto de Susana Duarte

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