Olhar Opalino
A árvore lembra um cefalópode
suas folhas as ventosas
e o Outono humedece as palavras.
Elas enraízam-se no papel
enquanto o poeta sustém um tentáculo
e absorve a solidão enroscada na memória.
Deita-se e ascende no tempo.
Na paisagem as folhas são mudas
encerram vitórias anunciadas no gesto da escrita.
Na sombra da árvore a tinta queimada
a angústia visceral do molusco
elevam o verso à escala da noite.
A tinta negra escorre entre os grãos
retorna pelas raízes silenciosas.
Um sopro súbito de carne viva
dilacera o desejo oculto na copa.
miguel de carvalho
Santarém, 6-X-2007
(publicado na revista CORRIENTE ALTERNA, #1, Santiago do Chile, 2008)
Foto de Susana Duarte |
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