nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
segunda-feira, 6 de julho de 2015
"À espera dos bárbaros" - Konstandinos Kavafis
Que esperamos na ágora congregados?
Os bárbaros hão-de chegar hoje.
- Porquê tanta inactividade no Senado?
Porque estão lá os Senadores e não legislam?
Porque os bárbaros chegarão hoje.
Que leis irão fazer já os Senadores?
Os bárbaros quando vierem legislarão.
- Porque se levantou tão cedo o nosso imperador,
e está sentado à maior porta da cidade
no seu trono, solene, de coroa?
Porque os bárbaros chegarão hoje.
E o imperador espera para receber
o seu chefe. Até preparou
para lhe dar um pergaminho. Aí
escreveu-lhe muitos títulos e nomes.
- Porque os nossos dois cônsules e os pretores
saíram hoje com as suas togas vermelhas, as bordadas;
porque levaram pulseiras com tantas ametistas,
e anéis com esmeraldas esplêndidas, brilhantes;
porque terão pegado hoje em báculos preciosos
com pratas e adornos de ouro extraordinariamente cinzelados?
Porque os bárbaros chegarão hoje;
e tais coisas deslumbram os bárbaros.
- E porque não vêm os valiosos oradores como sempre
para fazerem os seus discursos, dizerem das suas coisas?
Porque os bárbaros chegarão hoje;
e eles aborrecem-se com eloquências e orações políticas.
- Porque terá começado de repente este desassossego
e confusão. (Como se tornaram sérios os rostos.)
Porque se esvaziam rapidamente as ruas e as praças,
e todos regressam às suas casas muito pensativos?
Porque anoiteceu e os bárbaros não vieram.
E chegaram alguns das fronteiras,
e disseram que já não há bárbaros.
E agora que vai ser de nós sem bárbaros,
Esta gente era alguma solução.
.
["À espera dos bárbaros" - Konstandinos Kavafis (tradução, prefácio e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis)]
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Coimbra, cidade mágica... Coimbra é noite, é luar e desassossego.. Coimbra é rua, multidão, palavras soltas. É mulher, sabedoria e tradição....
este tempo é uma barbaridade
ResponderEliminarBem lembrado:
ResponderEliminara barbárie faz parte de todas as épocas
do processo históRICO