sexta-feira, 30 de agosto de 2013

COPO

Beijo-te através de um copo de vinho 
                                                que é sangue e é corpo.
Beijo-te através das letras que as minhas mãos te desenham
                                                                                                    no rosto.
As mãos desenham-te arabescos de vida,
                                                                e eu, sou um porto.

[As vielas da vida são as estradas iluminadas dos teus cabelos de sol e mosto].

Beijo-te, no cais dos dedos,
                                de onde partem carícias e segredos.

[amo-te na flor da noite e do leito, como o copo de vinho que se entrega à boca voraz].

Aqui, a teu lado, o meu corpo.

Jaz deitado na face da lua, onde
                                  és homem, e eu, sou maré nua.

As algas das noites solitárias espraiam-se no leito.
                                           O teu corpo: é nele que me deito.

[As algas das noites solitárias morrem no calor do meu peito
O teu peito é a aurora tingida de sangue que verte das lágrimas de um Fado].

Eu, aqui, beijo-te o corpo de vinho
e sal e pedras e flores e pontes e portos e chegadas.

E luas. E asas nuas. E Alma…quando me iças nos braços
e deitas, sobre mim, marés de laços que não se desatam e, de ti,
                                                                                                     me não tolhem.

[Pode vir a chuva].

Se a chuva vier devagarinho, na noite,
se a chuva vier violenta, na noite,
serei a luz do sol que te enxuga as lágrimas da despedida.

Deita-me sobre a lua e abraça-me a noite da partida.

Bebo-te o corpo de manhãs claras
e celebro em ti a vida,
e as veias,
e o copo de vinho,
e a luz
e as imagens
e as marés que me percorrem dentro de uma mão.



Susana Duarte
"Pescadores de Fosforescências"
Alphabetum Edições Literárias
Dezembro de 2012
Prefácio: Maria Elisa Ribeiro
Fotografias: Ivano Cetta



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