quarta-feira, 28 de agosto de 2013

FRAGMENTAÇÃO

Teimosamente, desvio o olhar da noite
que se concentra, bela… nos teus olhos.
Demoradamente, o bailado das estrelas
poisa-se nos nossos rostos, e os escolhos
marinhos são, apenas, os rododendros 
brancos, no seio de um bordado, escrito
_________nas tuas mãos____________

É nas mãos da tua serenidade que resisto,
e afasto as têmporas de uma dor antiga.
Revelo, em ti, os medos, como se fosses
espelho de um luar sem nuvens, oculto…
num baú velho, onde se guardam Outonos
e outras idades, e onde brilharam escamas
_____em sereias aladas, e em mim______

Escrevo  palavras dos olhos que se movem
no poema assustado que a rocha traiu….
…deixou cair o sonho indiscreto que te fez
e transformou em água o pó das rochas.
Caiu, e ficou no fundo das pedras do mar
azul. Caiu e transbordou a incerteza traduzida
______na hesitação do beijo_____________

A dúvida que me habita é um número primo.
Cai uma rocha da falésia. Um pescador dá
o nó a uma corda-grossa-áspera, onde me
ato, e desencontro de mim. Fragmentação
das ondas e fragmentação do Ser, numa folha
de jasmim, de um chá que adivinha amanhãs.

                                                                   Inquietude e agitação num olho.
                                                                   Invisibilidade e angústia na mão.
                                                                                    Solidão agitada, na onda viva
                                                                                    que, avassaladora, me deixa só.

Susana Duarte
"Pescadores de Fosforescências"
Alphabetum Edições Literárias
Dezembro de 2012
Prefácio de Maria Elisa Ribeiro 
Fotografias de Ivano Cetta



Foto colocada neste post: um leitor do "Pescadores". Foto gentilmente enviada pelo meu amigo João Carlos Lobo, fotógrafo (https://www.facebook.com/joaocarlos.lobo?fref=ts), e que tomo a liberdade de, aqui, reproduzir. Obrigada aos dois!


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