nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
segunda-feira, 30 de junho de 2014
sábado, 28 de junho de 2014
quando vieres, traz contigo os dias brancos
quando vieres, traz contigo as luzes da aurora
e os braços com que, outrora, enlaçaste o meu corpo.
não esperes. cerca-me com os olhos da demora
e abraça os azuis do peito e as manhãs
tristes. quando vieres, traz contigo os dias brancos
do teu corpo, e os troncos vivos que, das raízes
dos teus pés, se erguiam em demoradas carícias.
não demores. o tempo é fugaz como a juventude
que, em nós, habitava. toda a eternidade reside,
hoje, nos teus ombros se, neles, segurares os cabelos
que, de mim, voam na invenção das noites
e dos sonhos. os corvos voam no centro
das fibras negras que, nos teus dedos, enrolas
para, de seguida, beijar. não demores.
quando vieres, traz contigo o mundo de outrora,
e abraça-me. mais não quero, senão as danças
de Hátor quando Hórus descansa.
Susana Duarte
sexta-feira, 27 de junho de 2014
quinta-feira, 26 de junho de 2014
De Al Berto.
À sua volta crescia o silêncio,
doloroso silêncio,
semelhante ao que se estende por cima do mar
cuja misteriosa mansidão nos acorda, obrigando-nos
a descobrir, subitamente, que a solidão é muito maior
do que julgávamos.
[Al Berto]
___________________Vila Real / Lamas d´Olo — in Vila Real.
doloroso silêncio,
semelhante ao que se estende por cima do mar
cuja misteriosa mansidão nos acorda, obrigando-nos
a descobrir, subitamente, que a solidão é muito maior
do que julgávamos.
[Al Berto]
___________________Vila Real / Lamas d´Olo — in Vila Real.
Foto: Luís Garção Nunes
ruas.
ruas.
onde há estradas infinitas
que se cruzam nos ambívios da alma,
reside a
aparente serenidade dos passos
susana duarte
és, de todas as praias, a mais rubra
encontro-te nas luas azuis
de todas as marés do meu corpo,
e em todas as marés, encontro as noites
perfumadas de mirtilos. encontro-te
em cada onda que morre e em cada maré viva.
és, de todas as praias, a mais rubra
manhã dos meus olhos quando, em cada movimento,
ondulas seiva e me respiras.
encontro-te onde as frutas
me perfumam com a luz dos teus olhos,
e o azul-maré-recanto dos teus olhos, é a vida
que me cresce dentro e ilumina as veias
onde navegas. Mais não somos, senão ondulações
das letras
com que escrevemos o futuro
sobre o qual caminhamos.
susana duarte
quarta-feira, 25 de junho de 2014
terça-feira, 24 de junho de 2014
abro-te os lábios
abro-te os lábios com a urgência
de quem desce as águas fortes de um rio
e, nelas, não pára a corrente que me conduz
ao eterno que em ti reside e me leva às tuas pernas
sobressaltadas onde a luz dos teus beijos te eleva o corpo
POEMA à capela, entre Susana Duarte e Luísa Azevedo
POEMA
à capela, entre Susana Duarte e Luísa Azevedo. A partir de uma deixa, de um pequeno poema inicial, de Susana Duarte, eis o diálogo que se desenrolou entre nós, na ordem em que cada post foi sendo colocado.
à capela, entre Susana Duarte e Luísa Azevedo. A partir de uma deixa, de um pequeno poema inicial, de Susana Duarte, eis o diálogo que se desenrolou entre nós, na ordem em que cada post foi sendo colocado.
Uma honra, como sempre... Luísa Azevedo, aqui vai a minha partilha do nosso "Flores de mar"....
O poema nasceu do dia, nas asas de um cavalo
solto no céu, onde a luz se fez breve sombra
e as asas, escondidas na suave penumbra,
navegaram dias inteiros sobre as flores
de um jardim imaginário, de insetos
polinizadores, onde a chama
das cores do céu
se acenderam
no teu
nome.
é sempre o teu nome,
todas as suas letras
e o ardor nos lábios
quando te digo
que me acende os dedos
muito antes de tocar-te.
Se te toco, sinto o chao
e as flores da madrugada,
num deserto sem cores.
Sem ti....sem teus beijos,
nada.
Nada seduz e nada transparece.
Nada reluz, nada amanhece...
Só amanheço na manhã
do teu sorriso. No amanhã
de uma mágico que caminha
pelas ruas e me oferece
o fado cantado de um destino
prometido.
devolvo promessas
à fonte onde a ilusão encandeia
para não cegar na noite
seguir vendo o brilho dos teus olhos
e neles o brotar das flores.
sei que as pétalas trazem recados.
não as abro!
deixo que caiam
uma a uma
e o nosso fado se já escrevendo pelo chão
sobre o chão e sobre o leito,
se inscrevem amanhãs....
és verdade pressentida
onde se arrastam alvoradas
que estendo sobre mim;
nesse manto alado de ar,
respiro as cores do teu pescoço
e é assim, em alvoroço,
que me revejo no teu olhar.
pulsa-me o sangue de saber-te madrugada à minha espera.
chegarei tarde! reteve-me a lua nos seus braços,
amante,
nocturna
e oculta.
chegarei de olhos cansados,
corpo fatigado
e sem vontades.
chegarei de velas rasgadas,
rumo transviado.
preciso abarcar no teu destino
é nele, no destino dos teus braços,
que demorarei o ventre, e saberei
onde existe o sangue de uma alvorada
ardente,
silenciosa
e demorada,
nos olhos onde te amei
em cada beijo, e em cada asa
que, por ti, ganhei.
pois demora teu ventre
onde a vontade é pura
e nada em ti se perde.
demora o ventre nas memórias que balanço nos dedos
e, como uma dança, alongarei aos braços.
o nosso corpo é árvore
onde cada fruto será uma gota matinal de orvalho.
orvalharei o teu rosto com o suor dos meus braços,
transformando-te numa árvore de vida, num mar de sarçaços
e num olhar azul que me completa as marés
em ti me faço mar,
serei... seremos
talvez sereias,
teremos escamas,
cauda,
subtis interstícios
onde brilharão cristais próximos do que se chama sal.
teremos escamas como peixes azuis de oceanos
longínquos, onde as flores marinhas voam e
os peixes nadam até à raiz dos meus sonhos.
nos meus sonhos encontro teus olhos salinos,
feitos de cristais hialinos, onde a voz do mar
é apenas a voz do nosso canto, no seio que
se revela encantado, seguro pelo teu olhar.
é na transparência que dois olhar se penetram,
bem fundo! tão fundo que as almas podem mesclar-se,
tingir o interior do ser.
serás azul?
serei violeta?
seremos todas as cores que reflictam a luz sincera das águas
assim viveremos
em breve chegaremos ao centro de atlântida.
seremos magenta como as framboesas
nascidas no mais profundo do mar,
onde castelos de areia se espraiam
em mim, e eu... no luar.
e voltamos a cair-nos nos braços,
com os corpos lambuzados de amoras silvestres
pois foi da lua que parti, recordas?
queria ter-me para si,
saborear os prazeres terrenos,
saber-te longe, recordas?
dela fugi para voltar a ti.
volta. saberás sempre onde estou.
estarei onde residem as aves, sem asas,
que todavia voam em cada noite
que em mim....amanhece.
Estarei nas vielas onde se ouvem gatos
misteriosos e serenos. volta.
volta de onde estás e és sem mim.
serei a outra asa
para juntas voarmos
até ao amanhecer
e tombarmos no sonho de voltar a ser noite.
serei o miado desassossegado que reconheces
em qualquer viela e incessantemente buscas
até sermos unas uma mais.
e, assim, fundir-nos-emos na origem do mundo.
é lá, no centro de tudo, que as asas se derretem,
pois a fusão das almas não deseja voos. deseja ser.
sejamos então, num (e)terno abraço
Susana Duarte e Luísa Azevedo
O poema nasceu do dia, nas asas de um cavalo
solto no céu, onde a luz se fez breve sombra
e as asas, escondidas na suave penumbra,
navegaram dias inteiros sobre as flores
de um jardim imaginário, de insetos
polinizadores, onde a chama
das cores do céu
se acenderam
no teu
nome.
é sempre o teu nome,
todas as suas letras
e o ardor nos lábios
quando te digo
que me acende os dedos
muito antes de tocar-te.
Se te toco, sinto o chao
e as flores da madrugada,
num deserto sem cores.
Sem ti....sem teus beijos,
nada.
Nada seduz e nada transparece.
Nada reluz, nada amanhece...
Só amanheço na manhã
do teu sorriso. No amanhã
de uma mágico que caminha
pelas ruas e me oferece
o fado cantado de um destino
prometido.
devolvo promessas
à fonte onde a ilusão encandeia
para não cegar na noite
seguir vendo o brilho dos teus olhos
e neles o brotar das flores.
sei que as pétalas trazem recados.
não as abro!
deixo que caiam
uma a uma
e o nosso fado se já escrevendo pelo chão
sobre o chão e sobre o leito,
se inscrevem amanhãs....
és verdade pressentida
onde se arrastam alvoradas
que estendo sobre mim;
nesse manto alado de ar,
respiro as cores do teu pescoço
e é assim, em alvoroço,
que me revejo no teu olhar.
pulsa-me o sangue de saber-te madrugada à minha espera.
chegarei tarde! reteve-me a lua nos seus braços,
amante,
nocturna
e oculta.
chegarei de olhos cansados,
corpo fatigado
e sem vontades.
chegarei de velas rasgadas,
rumo transviado.
preciso abarcar no teu destino
é nele, no destino dos teus braços,
que demorarei o ventre, e saberei
onde existe o sangue de uma alvorada
ardente,
silenciosa
e demorada,
nos olhos onde te amei
em cada beijo, e em cada asa
que, por ti, ganhei.
pois demora teu ventre
onde a vontade é pura
e nada em ti se perde.
demora o ventre nas memórias que balanço nos dedos
e, como uma dança, alongarei aos braços.
o nosso corpo é árvore
onde cada fruto será uma gota matinal de orvalho.
orvalharei o teu rosto com o suor dos meus braços,
transformando-te numa árvore de vida, num mar de sarçaços
e num olhar azul que me completa as marés
em ti me faço mar,
serei... seremos
talvez sereias,
teremos escamas,
cauda,
subtis interstícios
onde brilharão cristais próximos do que se chama sal.
teremos escamas como peixes azuis de oceanos
longínquos, onde as flores marinhas voam e
os peixes nadam até à raiz dos meus sonhos.
nos meus sonhos encontro teus olhos salinos,
feitos de cristais hialinos, onde a voz do mar
é apenas a voz do nosso canto, no seio que
se revela encantado, seguro pelo teu olhar.
é na transparência que dois olhar se penetram,
bem fundo! tão fundo que as almas podem mesclar-se,
tingir o interior do ser.
serás azul?
serei violeta?
seremos todas as cores que reflictam a luz sincera das águas
assim viveremos
em breve chegaremos ao centro de atlântida.
seremos magenta como as framboesas
nascidas no mais profundo do mar,
onde castelos de areia se espraiam
em mim, e eu... no luar.
e voltamos a cair-nos nos braços,
com os corpos lambuzados de amoras silvestres
pois foi da lua que parti, recordas?
queria ter-me para si,
saborear os prazeres terrenos,
saber-te longe, recordas?
dela fugi para voltar a ti.
volta. saberás sempre onde estou.
estarei onde residem as aves, sem asas,
que todavia voam em cada noite
que em mim....amanhece.
Estarei nas vielas onde se ouvem gatos
misteriosos e serenos. volta.
volta de onde estás e és sem mim.
serei a outra asa
para juntas voarmos
até ao amanhecer
e tombarmos no sonho de voltar a ser noite.
serei o miado desassossegado que reconheces
em qualquer viela e incessantemente buscas
até sermos unas uma mais.
e, assim, fundir-nos-emos na origem do mundo.
é lá, no centro de tudo, que as asas se derretem,
pois a fusão das almas não deseja voos. deseja ser.
sejamos então, num (e)terno abraço
Susana Duarte e Luísa Azevedo
"de nenhum fruto queiras só metade"
"Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade."
Miguel Torga
Foto pessoal
Eles não sabem, nem sonham
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão, in 'Movimento Perpétuo'
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão, in 'Movimento Perpétuo'
segunda-feira, 23 de junho de 2014
Ria
há poemas que residem, apenas, nos olhares que se cruzam,
nas mãos que se tocam
e na infinitude dos dias cálidos de sorrisos
que transformam em sol as mágoas.
domingo, 22 de junho de 2014
Em Óbidos
http://boasnoticias.pt/noticias_%C3%93bidos-%C3%A9-a-primeira-vila-liter%C3%A1ria-de-Portugal_20006.html?page=0#.U6NA6AkotV4.twitter
sábado, 21 de junho de 2014
a partir de 20 de junho
http://agenda7-coimbra.pt/agenda7/event?id=2184
UNIVERSIDADE: ALTA E SOFIA| 1º Aniversário da inscrição como Património Mundial
Conjunto de iniciativas, nos dias 21 e 22 de junho, criando percursos, sonoros, de debate e de encontro com a cidade.
21 junho, sábado
ESPETÁCULOS DA NOITE
21h00| Praça 8 de Maio
TONE Music School
Big Band do Conservatório de Música de Coimbra
Bianca Gismonti Trio
21h30| Escadas da Igreja de S. Tiago
Canção de Coimbra com António Ataíde
22h00| Pátio da Inquisição
Forrocatu
23h00| Salão Brazil
Fachada + dj’s RUC
Pode descarregar o programa completo + sinopses nos links:
http://issuu.com/turismodecoimbra/docs/programa_sons_da_cidade-web
http://issuu.com/turismodecoimbra/docs/sons_da_cidade_apresenta____o_progr
sexta-feira, 20 de junho de 2014
o beijo é a serena queda das mãos sobre o corpo
o beijo é a serena queda das mãos sobre o corpo,
a quietude incerta das manhãs húmidas
de suor
e a agitação dos olhos, onde as mãos
iniciam voos
e madrugadas.
é no beijo que nasce a (e)terna mansidão
dos corpos.
o beijo é a fonte do poema,
orgasmo das mãos
e ventre das palavras
a noite e as asas de tudo,
o tudo e o nada que confunde,
as antíteses todas
de todas as vidas.
Susana Duarte
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Creche e jardim de Infância da APPACDM de Coimbra
“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”
Antoine de Saint-Éxupery
terça-feira, 17 de junho de 2014
domingo, 15 de junho de 2014
sexta-feira, 13 de junho de 2014
corpos desejantes
somos corpos flutuantes
nas escarpas
do desejo
corpos desejantes
à escala
de um beijo
somos corpos de antes
na procura
do corpo
desejo de agora
à escala
do amor
somos corpos flutuantes
na aventura
do olhar
inscrito nas veias
à procura
de Ser
Susana Duarte
nas escarpas
do desejo
corpos desejantes
à escala
de um beijo
somos corpos de antes
na procura
do corpo
desejo de agora
à escala
do amor
somos corpos flutuantes
na aventura
do olhar
inscrito nas veias
à procura
de Ser
Susana Duarte
quarta-feira, 11 de junho de 2014
(ler, em silêncio)
"Escuta, Amor
Quando damos as mãos, somos um barco feito de oceano, a agitar-se sobre as ondas, mas ancorado ao oceano pelo próprio oceano. Pode estar toda a espécie de tempo, o céu pode estar limpo, verão e vozes de crianças, o céu pode segurar nuvens e chumbo, nevoeiro ou madrugada, pode ser de noite, mas, sempre que damos as mãos, transformamo-nos na mesma matéria do mundo. Se preferires uma imagem da terra, somos árvores velhas, os ramos a crescerem muito lentamente, a madeira viva, a seiva. Para as árvores, a terra faz todo o sentido. De certeza que as árvores acreditam que são feitas de terra.
Por isto e por mais do que isto, tu estás aí e eu, aqui, também estou aí. Existimos no mesmo sítio sem esforço. Aquilo que somos mistura-se. Os nossos corpos só podem ser vistos pelos nossos olhos. Os outros olham para os nossos corpos com a mesma falta de verdade com que os espelhos nos reflectem. Tu és aquilo que sei sobre a ternura. Tu és tudo aquilo que sei. Mesmo quando não estavas lá, mesmo quando eu não estava lá, aprendíamos o suficiente para o instante em que nos encontrámos.
Aquilo que existe dentro de mim e dentro de ti, existe também à nossa volta quando estamos juntos. E agora estamos sempre juntos. O meu rosto e o teu rosto, fotografados imperfeitamente, são moldados pelas noites metafóricas e pelas manhãs metafóricas. Talvez outras pessoas chamem entendimento a essa certeza, mas eu e tu não sabemos se existem outras pessoas no mundo. Eu e tu declarámos o fim de todas as fronteiras e inseparámo-nos. Agora, somos uma única rocha, uma única montanha, somos uma gota que cai eternamente do céu, somos um fruto, somos uma casa, um mundo completo. Existem guerras dentro do nosso corpo, existem séculos e dinastias, existe toda uma história que pode ser contada sob múltiplas perspectivas, analisada e narrada em volumes de bibliotecas infinitas. Existem expedições arqueológicas dentro do nosso corpo, procuram e encontram restos de civilizações antigas, pirâmides de faraós, cidades inteiras cobertas pela lava de vulcões extintos. Existem aviões que levantam voo e aterram nos aeroportos interiores do nosso corpo, populações que emigram, êxodos de multidões famintas. E existem momentos despercebidos, uma criança que nasce, um velho que morre. Dentro de nós, existe tudo aquilo que existe em simultâneo em todas as partes.
Questiono os gestos mais simples, escrever este texto, tentar dizer aquilo que foge às palavras e que, no entanto, precisa delas para existir com a forma de palavras. Mas eu questiono, pergunto-me, será que são necessárias as palavras? Eu sei que entendes o que não sei dizer. Repito: eu sei que entendes o que não sei dizer. Essa certeza é feita de vento. Eu e tu somos esse vento. Não apenas um pedaço do vento dentro do vento, somos o vento todo.
Escuta,
ouve.
Amor.
Amor."
José Luís Peixoto, in 'Abraço'
Por isto e por mais do que isto, tu estás aí e eu, aqui, também estou aí. Existimos no mesmo sítio sem esforço. Aquilo que somos mistura-se. Os nossos corpos só podem ser vistos pelos nossos olhos. Os outros olham para os nossos corpos com a mesma falta de verdade com que os espelhos nos reflectem. Tu és aquilo que sei sobre a ternura. Tu és tudo aquilo que sei. Mesmo quando não estavas lá, mesmo quando eu não estava lá, aprendíamos o suficiente para o instante em que nos encontrámos.
Aquilo que existe dentro de mim e dentro de ti, existe também à nossa volta quando estamos juntos. E agora estamos sempre juntos. O meu rosto e o teu rosto, fotografados imperfeitamente, são moldados pelas noites metafóricas e pelas manhãs metafóricas. Talvez outras pessoas chamem entendimento a essa certeza, mas eu e tu não sabemos se existem outras pessoas no mundo. Eu e tu declarámos o fim de todas as fronteiras e inseparámo-nos. Agora, somos uma única rocha, uma única montanha, somos uma gota que cai eternamente do céu, somos um fruto, somos uma casa, um mundo completo. Existem guerras dentro do nosso corpo, existem séculos e dinastias, existe toda uma história que pode ser contada sob múltiplas perspectivas, analisada e narrada em volumes de bibliotecas infinitas. Existem expedições arqueológicas dentro do nosso corpo, procuram e encontram restos de civilizações antigas, pirâmides de faraós, cidades inteiras cobertas pela lava de vulcões extintos. Existem aviões que levantam voo e aterram nos aeroportos interiores do nosso corpo, populações que emigram, êxodos de multidões famintas. E existem momentos despercebidos, uma criança que nasce, um velho que morre. Dentro de nós, existe tudo aquilo que existe em simultâneo em todas as partes.
Questiono os gestos mais simples, escrever este texto, tentar dizer aquilo que foge às palavras e que, no entanto, precisa delas para existir com a forma de palavras. Mas eu questiono, pergunto-me, será que são necessárias as palavras? Eu sei que entendes o que não sei dizer. Repito: eu sei que entendes o que não sei dizer. Essa certeza é feita de vento. Eu e tu somos esse vento. Não apenas um pedaço do vento dentro do vento, somos o vento todo.
Escuta,
ouve.
Amor.
Amor."
José Luís Peixoto, in 'Abraço'
terça-feira, 10 de junho de 2014
(Nazim Hikmet) L’assenza dondola nell’aria come un batacchio di ferro martella il mio viso martella ne sono stordito. Corro via l’assenza m’insegue non posso sfuggirle le gambe si piegano cado l’assenza non è tempo né strada. L’assenza è un ponte fra noi anche quando di fronte l’uno all’altra i nostri ginocchi si toccano.
La più bella storia d’amore (Luis Sepulveda)
L’ultimo suono del tuo addio,
mi disse che non sapevo nulla
e che era giunto
il tempo necessario
di imparare i perché della materia.
Così, tra pietra e pietra
seppi che sommare è unire
e che sottrarre ci lascia
soli e vuoti.
Che i colori riflettono
l’ingenua volontà dell’occhio.
Che i solfeggi e i sol
implorano la fame dell’udito.
Che le strade e la polvere
sono la ragione dei passi.
Che la strada più breve
fra due punti
è il cerchio che li unisce
in un abbraccio sorpreso.
Che due più due
può essere un brano di Vivaldi.
Che i geni amabili
abitano le bottiglie del buon vino.
Con tutto questo già appreso
tornai a disfare l’eco del tuo addio
e al suo posto palpitante a scrivere
La Più Bella Storia d’Amore
ma, come dice l’adagio
non si finisce mai
di imparare e di dubitare.
E così, ancora una volta
tanto facilmente come nasce una rosa
o si morde la coda una stella fugace,
seppi che la mia opera era stata scritta
perché La Più Bella Storia d’Amore
è possibile solo
nella serena e inquietante
calligrafia dei tuoi occhi.
domingo, 8 de junho de 2014
no dia em que partiste
no dia em que partiste,
acabaram as madrugadas,
quebraram-se as folhas do outono
e raiaram de vermelho as noites
outrora luzentes de escuridão
sobre o leito.
no dia em que partiste,
acabaram os miados nas vielas
e as luzes nas janelas, perfumadas
de frutos vermelhos e de paixão.
sobre o chão onde me deito,
encolheram maçãs de luz
e os rostos revisitados pelo beijo.
no dia em que partiste,
floriram açucenas.
as estrelas, essas, esperaram pelo mar.
no dia em que partiste.
sábado, 7 de junho de 2014
escreverei à meia noite do poema
escreverei à meia noite do poema,
onde se desfazem as pedras das calçadas
e os teus passos.
escolheste seguir as pedras de ontem,
e os caminhos levantaram o pó
dos teus passos.
escreverei à meia noite do poema,
onde o vento desfez a noite, ela própria
uma ave assustada ante a imensidão
do desejo.
morrem os corpos na espera,
enquanto a meia noite do poema se declina
na cor das cerejas.
é na confluência dos dedos
que se desocultam as noites dos corpos,
entidades desejantes, meia noite das vidas
nuas, encontro sobre o leito,
ventos-sul do peito,
quando a meia noite do poema
se escreve nas peles.
Susana Duarte
quinta-feira, 5 de junho de 2014
quarta-feira, 4 de junho de 2014
segunda-feira, 2 de junho de 2014
onde te escondes, quando a noite cerca as sombras
onde te escondes, quando a noite cerca as sombras
e as desfaz, tornando-as nébulas no olhar, e densidade
negra por sobre as espáduas e o ventre?
onde te escondes, sempre que a noite vigia os incómodos
sussurros dos amantes, mitigados pelo raiar da lua que, sobre
os corpos, se declina em invulgares contornos, de corpos
redondos e interstícios onde as peles se não encontram?
onde quer que estejas, és o olhar que se estende sobre os dedos
que movo no ar, incógnitos bailados do pensamento,
onde tanto se diz, por entre aquilo que se procura.
Susana Duarte
domingo, 1 de junho de 2014
Do meu novo livro, "Pangeia", a sair brevemente....
Poema 7 (em silêncio)
das rochas, o desabrochar
silencioso das flores. é a travessia
última das manhãs: aquela
que se faz silente,
sob o marulhar
dos dedos que procuram, no dia,
o renascer da alma
(onde as rochas perduram
e o mundo recomeça a brotar
das águas).
Susana Duarte
SINOPSE
Se "Pescadores de Fosforescências" foi o livro do encontro, da vivência da presença (e da ausência) de um amor semeado em peitos longínquos, "Pangeia" é, provavelmente, o livro da perda do sonho e da saudade mais absoluta.
Os poemas unem-se à música, num sentir que funciona como um espelho onde cada um dos continentes - música e poesia - deixam transparecer os outros continentes presentes: os dois seres que, no passado, foram o perfeito encontro das almas.
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SINOPSE
Se "Pescadores de Fosforescências" foi o livro do encontro, da vivência da presença (e da ausência) de um amor semeado em peitos longínquos, "Pangeia" é, provavelmente, o livro da perda do sonho e da saudade mais absoluta.
Os poemas unem-se à música, num sentir que funciona como um espelho onde cada um dos continentes - música e poesia - deixam transparecer os outros continentes presentes: os dois seres que, no passado, foram o perfeito encontro das almas.
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