terça-feira, 24 de junho de 2014

POEMA à capela, entre Susana Duarte e Luísa Azevedo

POEMA
à capela, entre Susana Duarte e Luísa Azevedo. A partir de uma deixa, de um pequeno poema inicial, de Susana Duarte, eis o diálogo que se desenrolou entre nós, na ordem em que cada post foi sendo colocado. 

Uma honra, como sempre... Luísa Azevedo, aqui vai a minha partilha do nosso "Flores de mar"....


O poema nasceu do dia, nas asas de um cavalo

solto no céu, onde a luz se fez breve sombra

e as asas, escondidas na suave penumbra,

navegaram dias inteiros sobre as flores

de um jardim imaginário, de insetos

polinizadores, onde a chama

das cores do céu

se acenderam

no teu

nome.



é sempre o teu nome,

todas as suas letras

e o ardor nos lábios

quando te digo

que me acende os dedos

muito antes de tocar-te.



Se te toco, sinto o chao

e as flores da madrugada,

num deserto sem cores.

Sem ti....sem teus beijos,

nada.

Nada seduz e nada transparece.

Nada reluz, nada amanhece...

Só amanheço na manhã

do teu sorriso. No amanhã

de uma mágico que caminha

pelas ruas e me oferece

o fado cantado de um destino

prometido.




devolvo promessas

à fonte onde a ilusão encandeia

para não cegar na noite

seguir vendo o brilho dos teus olhos

e neles o brotar das flores.

sei que as pétalas trazem recados.

não as abro!

deixo que caiam

uma a uma

e o nosso fado se já escrevendo pelo chão



sobre o chão e sobre o leito,

se inscrevem amanhãs....

és verdade pressentida

onde se arrastam alvoradas

que estendo sobre mim;

nesse manto alado de ar,

respiro as cores do teu pescoço

e é assim, em alvoroço,

que me revejo no teu olhar.




pulsa-me o sangue de saber-te madrugada à minha espera.

chegarei tarde! reteve-me a lua nos seus braços,

amante,

nocturna

e oculta.

chegarei de olhos cansados,

corpo fatigado

e sem vontades.

chegarei de velas rasgadas,

rumo transviado.

preciso abarcar no teu destino



é nele, no destino dos teus braços,

que demorarei o ventre, e saberei

onde existe o sangue de uma alvorada

ardente,

silenciosa

e demorada,

nos olhos onde te amei

em cada beijo, e em cada asa

que, por ti, ganhei.




pois demora teu ventre

onde a vontade é pura

e nada em ti se perde.

demora o ventre nas memórias que balanço nos dedos

e, como uma dança, alongarei aos braços.

o nosso corpo é árvore

onde cada fruto será uma gota matinal de orvalho.



orvalharei o teu rosto com o suor dos meus braços,

transformando-te numa árvore de vida, num mar de sarçaços

e num olhar azul que me completa as marés




em ti me faço mar,

serei... seremos

talvez sereias,

teremos escamas,

cauda,

subtis interstícios

onde brilharão cristais próximos do que se chama sal.



teremos escamas como peixes azuis de oceanos

longínquos, onde as flores marinhas voam e

os peixes nadam até à raiz dos meus sonhos.

nos meus sonhos encontro teus olhos salinos,

feitos de cristais hialinos, onde a voz do mar

é apenas a voz do nosso canto, no seio que

se revela encantado, seguro pelo teu olhar.




é na transparência que dois olhar se penetram,

bem fundo! tão fundo que as almas podem mesclar-se,

tingir o interior do ser.

serás azul?

serei violeta?

seremos todas as cores que reflictam a luz sincera das águas

assim viveremos

em breve chegaremos ao centro de atlântida.



seremos magenta como as framboesas

nascidas no mais profundo do mar,

onde castelos de areia se espraiam

em mim, e eu... no luar.




e voltamos a cair-nos nos braços,

com os corpos lambuzados de amoras silvestres

pois foi da lua que parti, recordas?

queria ter-me para si,

saborear os prazeres terrenos,

saber-te longe, recordas?

dela fugi para voltar a ti.



volta. saberás sempre onde estou.

estarei onde residem as aves, sem asas,

que todavia voam em cada noite

que em mim....amanhece.

Estarei nas vielas onde se ouvem gatos

misteriosos e serenos. volta.

volta de onde estás e és sem mim.




serei a outra asa

para juntas voarmos

até ao amanhecer

e tombarmos no sonho de voltar a ser noite.

serei o miado desassossegado que reconheces

em qualquer viela e incessantemente buscas

até sermos unas uma mais.



e, assim, fundir-nos-emos na origem do mundo.

é lá, no centro de tudo, que as asas se derretem,

pois a fusão das almas não deseja voos. deseja ser.




sejamos então, num (e)terno abraço


Susana Duarte e Luísa Azevedo



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