construída pelas dissonâncias,
onde me sento sóe navego ondasde nada,
sou a antítese,
a matéria intrínseca do silêncio,e as noites do nada onde me sento
e sou.
Susana Duarte
nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
construída pelas dissonâncias,
onde me sento sóe navego ondasde nada,
sou a antítese,
a matéria intrínseca do silêncio,e as noites do nada onde me sento
e sou.
Susana Duarte
as manhãs dos desencontros
são as mesmas das expectativas:
suaves rugas da existência
ou vôos rasgados na névoa
branca de uma manhã
inesperada
como as nozes e o vinho
com que derretemos a noite
gélida e falamos a uma só voz.
Susana Duarte
há um nomepara todas as coisas.
há um nome para os voos errantes,
e para as aves trepadoras,
e para as mulheres aladas.
há um nome
para as ondas sobressaltadas,
e para as névoas. há um nome
para as coisas cujo nome
não creio saber, e para ti.
tu, cujo nome não pronuncio,
existes, todavia, onde as marés
alcançam a solenidade do sol,
derrotando as angústias calcificadas
nas vertentes incorpóreas
das palavras [e dos nomes
que não ouso dizer].
Susana Duarte
os dedos percorrem sílabas
onde o verbo, exilado,
anuncia o tempo
e o tempo, silente,
revê nervuras
e as mãos.
são folhas de romã, os dias,
e palavras perdidas
onde o tempo se esgota.
nunca mais os dias de verão
serão as searas douradas de antigamente.
o restolhar das folhas,
e a palavra
decadente
perdem os sentidos,
onde o verbo descreve as curvas
e a idade amontoa frases
e ilumina memórias.
procuro-te nos lugares
improváveis, sossegando
o olhar nos gatos da rua,
tão improváveis como as aves;
tão céleres como as noites
ávidas;
tão estranhos como nós.
Susana Duarte
prometo-te um poema
de silêncio e navegação,
uma onda lenta na pele,
o mar, a saudação
leve do dedo sobre a boca
e a neve que se desfaz nas costas
desabitadas.
Susana Duarte
metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso dos meus pensamentos. metade de...