quinta-feira, 24 de março de 2011

NOCTÍGENO

Há uma mulher que caminha.



Segura. Erguida pela fé de umas asas negras que



se desprenderam de um precipício.






A seu lado, um vulto solar. Cabelos



soltos de cavalo alado. Branco. Livre,



alado. Serenador?...




A mulher é dádiva de afectos,



mas pródiga de liberdade. Caminham lado a lado.



A mulher. O vulto. O cavalo alado.







Ela dá asas ao grito lancinante. Caminha



numa estrada onde o amanhã incerto a devolve



a uma estrada de pedras luminescentes.






Ela não sabe se saltará.



Ela não sabe se saltará.



Ela não sabe.







Mas é para lá que vai. Incertos



são os passos onde as pedras lhe asseguram



o chão difícil. Talvez, amanhã, talvez...







...o vulto alado a traga de volta



a si. A si. A si. A si…



Onde pára a alegria?







Onde vive a tristeza?



Onde mora o sonho antigo,



levado pela correnteza de um rio absurdo?...







Mudo.



Mudo, o sonho. Mudo, o caminho.



Talvez se trate, apenas, de um cruzamento.







É o cruzamento onde as margaridas



florescem. As magnólias perfumam a



noite. As fadas brincam com dedos de trigo.







O cavalo alado agita a névoa



e dissipa o precipício. É nele que habita



a estranha luz da noite azul.







A mulher caminha.



Caminha numa alvorada rosa.



Caminha com pés de rosas.



Caminha com pedras.



Caminha com flores. Caminha com sonhos.



Decidiu.



Vai saltar para as asas do cavalo branco.



Vai sonhar um sonho de madrugada.



Vai deixar o dia recomeçar.



Vai pela vida com dedos de seda.



Vai pelo caminho quetrilha.



Vai.



Vai.



Vai.











O vulto alado que a acompanha pacifica



a necessidade de precipício.



Anjo. Vulto indefinido. Cavalo branco. Ser alado.



Viagem.





(Susana Duarte)

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