segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

amamos como se o Amor fosse um dédalo,
cristal de labirintos de almas inquietas,
serenadas na luz do olhar
de um tempo

onde as maçãs camoesas perfumavam
olhares desatentos de primaveras-
-bívio, lugar de amar
a fluência do vento.

... amamos nas derivas suaves de um beijo,
cereja rubra de um sereno desejo,
onde habitam palavras
e as emoções
coram

as doridas faces dos caminhos anteriores,
escritos nos dedos de passeios
vividos na emoção
de jardins de
magnólias.

amamos nas bermas do repouso do olhar,
mar sereno em dias de pesca
de conchas imaginárias e
de vidas marinhas
nas veias da
paixão.

amamos os braços e as mãos.
amamos o Outro de nós,
as amplitudes da voz
que nos cicia
eternidade.

Susana Duarte

sábado, 21 de janeiro de 2012

o teu sonho será a pele
que vestiu o rosto da neve
nos dias brancos da minha existência.

o teu sonho será a neve
que me vestiu a pele do rosto
... nos dias-todos os dias- da ausência.

vestiria a nudez do olhar
sob as escamas de um peixe nacarado.
procuro-te. o sonho onde habitas é ainda
a ilha desconhecida de um silêncio amado.
 
Susana Duarte

domingo, 15 de janeiro de 2012

escrevo-te. nas linhas do corpo, removo as ondas
das décadas de estórias de amantes estarrecidos
ante a suave calêndula. escrevo-te. escrevo veias
nas mãos onde deslumbraste os corpos da luz
na serenidade escura do leito de flores. escrevo-...te
nas suaves ondulações do sonho, onde vives. és
a sombra das asas de um anjo de dias anteriores.
escrevo-te. em ti, escrevo flores nas costas, nas
pernas, nas pálpebras latejantes de dias de verão.
 
 
 
Susana Duarte
 
 
.se soubesse das aves...teria dedos na ponta das asas e asas nos recantos da alma.

.como não sei, fico no vale onde se espraiam vontades que, a cada minuto que nos separa, me fazem, todavia, voar. para longe dos dias passados.



Susana Duarte

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

.sobre tuas águas, estendi o manto diáfanos das pétalas
de um nenúfar, pousado nas ondas da infinita vontade
de voar. sobrevoar, rasante, as ondas... baixando à areia,
sobre teus olhos, fingir que encontrei o sereno leito
de um futuro-pre...sente. onde aves doiradas navegam
luas de encantamento. e as serenas flores da paixão
eternizam cerejas no corpo das sereias perdidas
no meio de laranjais ocultos por entre ramagens
à beira de um rio que não sei. nesse rio, o peixe
bailou-te na boca. nesse rio, naveguei teus olhos.


                                             e, ainda, não te revi. e, ainda, não te reencontrei.

Susana Duarte

(pensando na Capelinha e nas noites serenas e suaves, como a música que não me cansarei jamais de ouvir)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

medo de ser

noite da noite das angústias e das esquinas do tempo

ave noturna nos braços longos do desespero. desalento.

... medo de ser

braços de árvore despida de folhas em branco. inscrita

nas pernas e nas raízes do sonho, penduro-me em braços

escondidos e mergulhados na penumbra da tarde de inverno.

medo de ser

o céu, e o inferno. grades aprisionam asas de aves e vozes

caladas de brilhos solares. as angústias são anseios de ave

que voa na calada da noite e, só, mergulha no rio. nas águas,

revê as margens onde se ancorava um barco. medo de ser.

medo de deixar de ser. medo de permitir a intrusão do medo.

Susana Duarte
Poema e foto

 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

UTOPIA

.também eu tentei escrever o amor nos dedos,
onde a areia não se apaga na sofreguidão das ondas.

. fiz do teu nome a flor dos dias e afastei medos,
... onde se travam lutas, e as estrelas são redondas e petrificadas
estátuas de árias longínquas, de óperas imperfeitas...

. fiz dos meus dias a magnólia rosa do inverno
e, na ausência das folhas, escrevi tudo o que não é eterno.

.foi nas ondas que o teu nome se inscreveu.

.tornei-me maré.

Susana Duarte
 
 

domingo, 8 de janeiro de 2012

SABEDORIA

Vivo das lágrimas e da poeira da estrada, que se entranha nos olhos

e me tolhe das águas do rio onde nasci; sorriso turvo nas algas

de dias escorregadios e flores de sol onde nascem ameias

estranhas; corro atrás das nuvens e percorro ruas

desertas. Se soubesse dos dias, estarias

mais perto.

Susana Duarte

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

 
 
 
suspendi o tempo na noite de uma palavra


(talvez seja tempo de a palavra se desequilibrar)


da corda estendida na noite do tempo, recolho
a sequiosa gota de luar. invento. invento tempos

de noites
de gotas
de olhos
de acordes
de horas
de ventos
de céus ocultos.

desoculto a noite da palavra e o tempo cai


suspensa das árvores de gotas caídas,

caio também


sou das árvores noturnas e dos seios das horas brancas


e nas noites das palavras invento o mundo do canto


estendes uma ponte onde a noite cai serena no tempo-
-fantasma


estrela de pontas ocultas no fio de um gume
esticado na soturna e silenciosa escuridão da árvore
onde crescem hibiscos velhos e laranjas dormem

Susana Duarte

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012




sussurrar palavras no eco do silêncio



                                                    de retorno, apenas...a vaga possibilidade

Susana Duarte
desço

de estrelas empalideço
se, na noite, for teu o brilho que me segura


Susana Duarte

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

febre

dias consumidos em febre

febre nas noites das pálpebras e
nas pálpebras do vento

sedento

febre

dias consumidos em dias de velas

dias nos dias das áleas das tílias
e nas tílias das mãos,
onde crescem serenas e, todavia,

incautas

as linhas do destino traçado num dia

de névoas desalinhadas
e de luzes estranhas na sombra das luas


febre

noites consumidas no abraço
estarrecido

o abraço dos dias em que sou
um braço
protegido

febre que me arde nas pestanas
movimentadas ao som de um compasso

todavia esquecido de si
lembrado de mim,

no tempo que passa e,

desatento,

sobre mim lança seus braços

(antes os teus)

Susana Duarte

domingo, 1 de janeiro de 2012

vou escrever uma flor no suor de um poema
e, da canção de amor, farei um sol, no tema
que se inspira no rosto que me visita os dias,
e me interioriza nos caules de plantas-memórias,
e de fotografias disparadas ao luar do tempo.




Susana Duarte
queria-te comigo na noite do ser. e doce flor seria no secreto adormecer.
.guia-me na noite do silente coração. e não deixes morrer. não deixes morrer
a serena paixão. a árvore és tu. a araucária alta no jardim. onde plantas
árvores, plantas-me, a mim... na infinitude da altura da vontade de voar.
.sei de ti. sabes de mim. plantas etéreas, noturnas, marinhas. plantas de amar.





Susana Duarte



.queria ser voo e ser horizonte.



.numa praia deserta, ser a vida e a fonte que te deixa ser asa e remo, nave e mar navegado,
fruta morena em terreno desbravado, onde se verte a lua   e navega a noite, ao som de um violoncelo-mulher-despida-de si.


.encontrar-me no horizonte onde os olhos são estrela do norte,

                                                                                     e sou eu-em-ti.


                                                                                                                          Susana Duarte
(Pintura de Nicoletta Tomas)


.abro-te os lábios com a urgência de quem desce as águas fortes de um rio e, nelas,

 não pára a corrente que me conduz ao eterno que em ti reside e me leva às tuas pernas

sobressaltadas onde a luz dos teus beijos te eleva o corpo na voz da noz da flor do desejo.


                                                                      da flor da paixão. onde te sei.


Susana Duarte

 metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso  dos meus pensamentos. metade de...