nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia, sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes, noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta que se declina nos lugares que já não procuro.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
A aldeia (I)
(Foto minha)
Era uma aldeia, como outra aldeia qualquer. Pequena...uma pequena aldeia de contos de fadas, onde se podia crescer alegremente, correndo pelos campos, sem medo e sem tempo.
Na aldeia, as ruas não tinham nome: as pessoas viviam na rua "da casa do Ti Manel", ou na "casa do Santos que está na América". E todos sabiam onde era essa rua. Todos sabiam como ir dar um recado. Todos sabiam como podiam ajudar, se necessário fosse. Todos, sem excepção, conheciam todas as casas da aldeia.
A aldeia tinha uma capelinha. Na altura, era um lugar mágico, onde se acorria num silêncio ensurdecedor, num respeito absoluto pelo Senhor. Onde as senhoras tinham o hábito de entrar com a cabeça coberta por um lenço rendado, negro, para, silenciosamente, ouvirem A Palavra. A capelinha tinha um relógio que marcava o compasso das horas passadas no campo: em todos os cantos da aldeia, podia ouvir-se o toque da hora certa ou da meia hora. No campo em redor, os agricultores não precisavam do toque do relógio: olhavam para o sol e sabiam se era tempo de voltar a casa.
Era no Largo da Capela que, anualmente, se montava a quermesse e o local onde actuariam as bandas que iriam animar os bailaricos da festa anual. Toda a gente se aprumava: dia de festa era dia de roupinha nova! E de dormir em casa dos avós. E de dançar no largo da capela. E de deitar tarde, essa mágica liberdade...
Os dias pareciam não ter fim. Os dias davam para fazer tudo: subir às árvores, acorrer a quem precisasse de mandar um recado a alguém, comer fruta acabada de tirar das árvores de fruto, vindimar..para a barriga!, estar com as pessoas queridas. E sentar, sentar a conversar com os velhos no Largo da capela. Ouvir. Aprender.
O sabor das coisas...era o sabor do tempo que foi.
Era assim a minha aldeia...
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Também era assim a minha aldeia, hoje, quando lá volto sinto uma nostalgia enorme, pois tudo agora é diferente, eu sou diferente da menina que brincava, pulava, saltava á corda, colhia fruta das arvores para comer.
ResponderEliminarAinda assim lhe continuo a chamar o meu paraíso e sempre que me é possível regresso ao "paraíso" e ás minhas memórias de infância :) Sabe tão bem :)
A tua e a minha :-)
ResponderEliminarQue sortudos por termos tido essa infancia...
Boa noite Susana
Um beijo
Bruxinha,
ResponderEliminarolá e obrigada por teres aderido à minha Terra.
De facto, somos diferentes de quem éramos naquela altura. Mas as memórias são as que agarram o espírito a estórias belíssimas que moldaram aquilo que sou. E, realmente, são memórias privilegiadas, as nossas, que crescemos na aldeia,por contraponto a quem cresceu na cidade....
Francisco,
ResponderEliminarobrigada por estares sempre aí...
Sim, somos uns sortudos. Crescer ao sabor do tempo de uma aldeia teve um sabor único.
Beijinhos para ti
É verdade, Terra de Encanto...que eu bem me preocupava com as tuas "peregrinações" pelos cantos mais recônditos da nossa aldeia...onde fizeste descobertas de que ,só agora, falas, na companhia do teu irmão e amiguitos!
ResponderEliminarBeijos de lusibero
Pois claro....e haveria muito por contar....deixa lá.... ;)
ResponderEliminarOla terra de encanto, obrigado pela visitinha!
ResponderEliminarha sim, as minimas coisas da natureza, sao lindissimas se apreciarmos com sabedoria!
um enorme abraço!
Não resisti!
ResponderEliminarHá tempos passo pelo Lusibero e sempre quis conhecer aqui, pois o nome já diz tudo - TERRA DE ENCANTO - e, como gosto de encantamento, de fadas, de mágica, de sonhos e de amor, adentrei nesta tua terra e achei tudo isso.
O nome lhe é fiel.
Um abraço grande
Fabiano,
ResponderEliminarretribuo.
Foi com prazer que passei, e será com prazer que vou regressar.
Malu,
ResponderEliminara ti (posso tratar-te por tu?),devo dizer que tenho, com a Maria do Lusibero, uma relação muito próxima!
Ela conta-te!
Beijo amigo
Oi denovo!
ResponderEliminaré muito bom relembrar os lugares que vivemos, ou por tempos que ja se passaram que foram bons pra nos, penso que antes era tudo mais simples, as pessoas eram mais cortesãs, olha que so tenho vinte anos e ja sinto isso... linda a foto, axo lindo sapinhos!
ps: Quero te dar uma dica, o antonio do cova de urso me passou esta dica a algum tempo e agora quero passar pra voce, quando clicamos na fotinha do seu blog no quem esta nos seguindo "nos seguidores" nao aparece o link para visitar o seu blog, assim voce perde visitas, um enorme abraço! qualquer coisa pode me mandar uma mensagem!