quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

De Manuel Branco..."Desculpa a impertinência:não me consigo esquecer de ti."

ENCONTRO

Vem ter comigo à bruma da manhã.Entremos no claro das árvores e no espanto meticuloso do dia,que nos inicia a luz só para melhor nos encontrar uma vereda amável.Podes mesmo dar-me a mão,sozinho perco-me na penumbra dos sonhos,no ritmo imperioso do possível.Como dizer da saudade sem que o mundo note,talvez apenas mostrando-te a cicatriz do trilho silencioso das lágrimas no rosto.Tocaste o meu sonho ao passares por aqui,deixando uma luminosa tatuagem.Sabes,às vezes escrevo-te.Há em tudo um alvoroço,um querer,e o lápis arranha o papel como te farei quando cresceres na ponta ansiosa dos meus dedos.As minhas mãos esperam-te,na bruma.Desculpa a impertinência:não me consigo esquecer de ti.Ainda se não tivesses o olhar fundo com que me miras,talvez eu pudesse olhar para outro lado.Mas enquanto tiver esta saudade de te beijar a toda a hora,como poderei afastar um diamante para me distrair com pedras simples?A minha cidade podes ser tu,as minhas ruas e veredas são o teu sorriso,num amor de trato difícil.Ciúme longo,abraços,muita maresia.Mas amanhã,sempre,agora,quente ternura à flor da pele.E dos ossos.Como se me nascesse uma pequena macieira rente ao coração,acaricio um sonho.As flores que nascem na minha boca,trazem o teu aroma ,entre beijos e sonho.Tenho-te apenas a ti e tenho tudo.Todo eu sou saudade,num corpo de ternura.Só isto,na bruma da manhã.

manuel branco

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