nada te resta, senão olhar-me de longe. sabes que habito
outro plano, o do dia e da luz com que prossigo, todavia,
sobre as flores submarinas. nada te resta, senão as lágrimas
e o arrependimento. talvez possas ressurgir, noutras vestes,
noutros seixos. mas serás sempre a sombra, a vida incompleta
que se declina nos lugares que já não procuro.
somos aves. somos flores. somos mágoas.somos névoas dissipadas. somos fráguas. densas rendas desenhadas sobre o vento. densas lendas desenhadas no desalento. densas aves desenhadas no papel. suaves flores. suave mel. somos ausência. somos dúvida. somos dor. somos obra vasta, penhor das nuvens, borboleta. somos a renda escavada numa gruta. desenho leve das águas. lenta dúvida que se desfaz. trégua na noite. suave onda. somos estrela alva na aurora desfolhada. breve canção, montanha escalada. somos a folha e a gota de orvalho, a fada etérea e a rocha e o galho. somos teixo, égua, albatroz. somos fruta. somos noz. somos deserto nas noites coalhadas. somos água e bico e sede. somos tudo. somos nada. somos vida. somos morte. somos acaso, destino, sorte. somos deuses e maçãs. ruas. estradas. manhãs. somos eu, e somos tu, e somos um e outro, cada um do outro. somos a vida. somos a morte. somos cítara e somos sorte. música, fuga, escarpada. somos tudo. somos nada. somos a soma de todos os outros, antes de nós. a voz das fontes, a voz da voz. somos um, e somos outro. e descobrimos a fonte da vida, na água que jorra da boca de cada um. somos infindos. somos unos. somos, sobretudo, quando somos juntos. abraço o teu infinito. somos aves. somos flores. somos céu. desdobra-te em mim. despoja-me de mim. sejamos o começo. e o fim.
susana duarte
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
O que é a Poesia?
Uma cumplicidade entre a nossa loucura e a lucidez de Deus.
... una historia basada en el azar fue presentado hace unos días en la librería conimbricense de Miguel de Carvalho, uno de los principales centros mundiales de reunión de las huestes surrealistas ..."
“I am convinced that human life is filled with many pure, happy, serene examples of insincerity, truly splendid of their kind-of people deceiving one another without (strangely enough) any wounds being inflicted, of people who seem unaware even that they are deceiving one another.”
das noites húmidas chegou uma solidão absorta flutuante entre fragmentos da existência lenta com olhos de claridade de um corpo de abandonos vigiados que só começará a desatar os nós de seus cabelos crespos quando pelas mãos antropófagas começar a arder arder sem medo esta paisagem mental de forças demasiado rápidas.
iniciou a viagem sem asas, (sossegadas nos segredos com que a vida as tragou)
esquecida, ela própria, do mundo
e das névoas que, na passagem da aurora, ergueram os muros prováveis da memória,
renasceu, ela (a mulher) dos ossos fragmentados que lhe amparam
a Viagem.
Susana Duarte
Começar a escrever. Escrever uma, duas, três linhas, uma página inteira. Chegar ao fim, reler. Apagar tudo, deitar para o lixo. A vida devia oferecer-nos esta possibilidade. Vivermos um dia, dois dias, três dias. Pararmos para pensar no que vivemos, apagarmos tudo, deitarmos o passado para o lixo. O maior drama da vida é não ser como um texto, não podermos rasurar o passado. O lixo há-de pesar-nos sempre, o lixo de cada dia, de cada hora, de cada momento, que suportaremos como Sísifo teve de suportar a sua condenação. _____________[Henrique Manuel Bento Fialho]
"O céu está vazio. Há anos que amo este homem. Um homem a quem ainda não dei nome. Um homem que amo. Um homem que me abandonará. O resto, diante, atrás de mim, antes e depois de mim, é-me indiferente. Amo-te."