segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Diáspora

Levantas as asas num voo rasante de alma vulcânica; transbordas de aromas de terra; em ondas sísmicas, atravessas o rio que engole a indiferença e a efabulação.

Unes o vento e o mar num terremoto anímico onde voam sereias silenciosas e Orfeu canta.Mas não olhas para trás. Sabes que é à tua frente que o caule inflorescerá. Invocas as deusas, e serenas a dualidade da alma.

Insinuas a noite na desfolhada da pele que sintetiza o canto, que se fez manhã, e celebrou a paixão. Deixas a claridade da dor invadir-te a alma e reconstróis, assim, a nuvem que se volatilizou.

Sabes onde fica um deserto onde flores secretas desabrocham à noite. Flores, flores, flores descobertas, antes ocultas domundo, em casas fechadas- refúgio, anel, papoila rubra,animal, noite, sofreguidão,solidão. Refúgio. Ali, onde alumias as noites, é o sítio onde nasces e fazes nascer, onde tornas clara a profundidade da palavra – amor amor amor.

...


Letras. Soletras cada escama num peixe dos mares do sul. Soletras cada onda num sismo
tentacular que não te tolhe de mim. Sabes onde fica cada movimento, cada passo, cada
letra do nome que me deram. Ouves as aves em ilhas perdidas que ecoam a ausência.

Uno e indiviso, clamas por uma flor, que não queres encontrar. Dualidade. Ó onda, maré, ave perdida no mar. Koa’é kea. Flor do saldo sal do sal, flor do sal que cai fina, na rede solta que abriste aqui. Desata este nó, desata. Puxa a corda que estendeste e leva-me pela penumbra do teu braço.

Iça-me. Leva-me. As velas são brancas, e tu és aqui. Marinheiro de mim, corredor de
distâncias, passeias a noite pelas mãos e ergues o dia com os olhos. Lava quente que
preenche a fenda na terra por lavrar.Pó, cascalho, pedra. A forma a começar. A escultura que sai dos dedos.

Sabes, não sabes? Esculpes cada desejo num torno universal. Pulsões de vida. Eros e Tânatos.Pequena morte. E tanta vida…Conchas.Sou concha na tua mão. A erosão do tempo que nos trouxe aqui. Salvífica. Pedra escultórica. Animal. Lobo. Tigre. Águia em voo. Ave . Ave.

Ave.




Lava-me os olhos com a humidade transparente da tua voz. Metamorfoseia-me o ombro em
que fazes descer a luz. A luz, anoite. Tu e eu, eu e a atomização do ser. Despidos de
pudor, de pânico e de nós-seres-individuais, metamorfoseando-nos no ser indivisível que o amor procura.

Unidade. Ser. Índio que dança na altura das rochas emanadoras de apego ao Universo.
Expectante. Dorido. As Moiras procuram-te. Mas é com Hermes que caminhas. Nos ventos
alíseos procuras o sopro da vida que permaneceu algures na linha temporal que o Cosmos
criou. Nos ventos solares, um raio deluz queima a terra onde navegam almas solitárias. A diferença é a Procura. A Procura não da completude, mas da epifania do olhar-outro. Cosmicidade. Passar além do Self. Lutar pelo outro. Descobres que amas. Que crias o sonho do encontro. Encontro.

Insinuei-me na tua voz. Ouviste as vibrações das cordas vocais. Resistes ao apelo de Eros? É a tua bela Helena? Ela, que ao espelho,se reflecte e teme? Que se olha, mas se não vê? Que procura, no teu olhar, a magia da descoberta? Quem dera fosse visível o arrepio anímico. Descobrir-te os recantos escondidos sob os braços genesíacos. Cobre-me o rosto com o teu peito. Enche-me de ti.Respira-me a pele e deixa-me viver no teu olhar.

Sabedoria. Saber e não saber. Não saber e querer descobrir. Por momentos, a noite que se levanta da alma. Um bater de asas de borboleta invoca a Criação. Génesis em mim. Renasço em ti. Soluças um choro de sonho e conhecimento. Deixas de lado as coisas
gastas. Usas a vida para seresinteiro. Insondáveis desígnios universais, átomos que se congregam. Odores voláteis que tetrouxeram aqui. A imagem lávica da claridade solar na curva dos olhos. Ficas? Fica…dissipa o nevoeiro e despe-me de pudor. Tira-me das asas o fio invisível que lhes pus. Fica. Lobo. Ave. Ave. Ave. Rumamos ao centro do mundo, para nos fundirmos com a Origem.

.

domingo, 7 de novembro de 2010

Há um cavalo alado, de asas pretas na noite de fogo, que teima em não se fazer dia. A noite de fogo é uma miragem no deserto, perdido na vertigem de ser e não-ser.
O precipício que chama e repele e o medo abomina, é o cavalo alado que chama e fecunda a terra que o sublima.
Sabem a sal, a noite, o deserto, os grilhões. São pesados, os grilhões de ferro, ferro da raiz que não desponta. A semente. O grilhão.
A caneta escreve sem rumo, sem direcção.
Voou um grão de areia para o universo, e no universo se perdeu. Um grão de areia, mícron no cosmos…o caos. Do caos emerge o cavalo que prendeu as asas. Suas crinas negras clamam pelo caos. Sugam as estrelas e a luz, que desaparecem no buraco negro de pó universal, verdadeiro colapso de Oppenheimer-Snyder.
No buraco negro não há lei nem ordem, apenas ausência de luz. Existe como o mais absoluto não-lugar. É lá que o cavalo alado queria ficar.
A partícula de sonho que o domina, quer um sítio onde morar. Um lugar que não existe, a Utopia. Utopia é o real por concretizar, um mundo paralelo: viver debaixo do mar. Encontrar uma sereia que canta o cavalo alado e o faz alucinar.
Impressões, vozes, delírios, na noite de fogo que se fez breu. Onde fica o real, se o Real se perdeu?
A Utopia, a alucinação, a realidade paralela. Ora perdida, ora encontrada, feita de areia, ou feita de nada.
É violento o silêncio que se impôs. É a ave que se solta e tem que voar. Uma asa de cera que derrete, outra com força para voar. Rémiges. Escrevem o voo numa folha de cartão, onde desenho o universo cabendo numa mão. A mão solta-se do braço que prende as asas do cavalo.
O cavalo agita-se, feroz. Já foi rio, agora é foz.
Desaguou no mar profundo e encontrou a Utopia, o seu real fantasmático.
Dorme.
Dorme.
Dorme.
Um grito: Ham-sa.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

no dia em que te vi

correr



correr o mundo para te ver



saltar as pontes



e



tornar- te

seda

sob o toque das minhas mãos





saltaria sobre o arco-íris

só para alcançar



o horizonte



alcançar a voz

que me aquieta as noites



sonharia um sonho de neve

só para poder ter frio

e aquecer-me depois

no toque do teu olhar



olharia

a terra



de onde vim



para encontrar as folhas de outono

com que cubro os cabelos



e no mar imenso,

lágrimas

ardentes



de sal, de maresia



deixaria o baú

das coisas velhas



gastas



que gastaram os sonhos

até ao dia quente





em que te vi

transportado por um Fado

de alegria e encontro

cantado nas vielas



passou um gato por ali...

a solidão espreita atrás da janela



velhos sorrisos

em velhas ruas

da cidade onde te conheci



é nessa cidade

que se fez o dia e a noite

no dia em que te vi

.

domingo, 29 de agosto de 2010

És...visível...

És

como um manto transparente

que cobre a borboleta

nocturna

que voa em mim.

Percorres

a noite silenciosa

que rasga o ventre do sono

e me faz acordar.

Ténue fio de vento

que transforma em tempestade

a outrora serena maré.



Vejo-te, agora

...como um voo nocturno, de asas escondidas.

Como um sonho sereno, quando rompe a manhã.



És uma estrela em mim.



Saboreio o odor do sonho

num porto de mar,

num chá de jasmim,

numa aurora a despontar.





És o sonho em mim.

A noite e o dia, quando o sonho começa.

És invisível...



És invisível.
Como um manto transparente
que cobre a borboleta
nocturna
que voa em mim.
És invisível.
Percorres a noite silenciosa
que rasga o ventre do sono
e me faz acordar.
És invisível.
Ténue fio de vento
que transforma em tempestade
a outrora serena maré.

Quer ver-te, agora.
...como um voo nocturno, de asas escondidas.
Como um sonho sereno, quando rompe a manhã.

Onde quer que estejas,
és uma estrela em mim.

Saboreio o odor do sonho
num porto de mar,
num chá de jasmim,
numa aurora a despontar.


És o sonho em mim.

A noite e o dia, quando o sonho começa.

domingo, 15 de agosto de 2010

Ilha


Há, no horizonte, uma ilha.





Na ilha, a voz distante de um clamor.







É de verde que se veste o coração. Expectante.





(Fechas os olhos e

encerras, no seu eixo,

o segredo de que ainda só

suspeitas.



Não sabes. Mas esperas.

E a luz, dentro deles,

revela o sonho que te conduz.)







No horizonte, uma ilha.

Nos teus olhos, o horizonte.

sábado, 3 de julho de 2010

e.e.cummings

"Liliy has a rose": poema de e.e.Cummings (1894 - 1962), um dos meus poetas de sempre, descoberto nos tempos da Faculdade. Nascido em Cambridge, sempre foi encorajado a desenvolver as suas potencialidades criativas, chegando a uma poesia límpida, belíssima, inspiradora.

A partilhar...



lily has a rose
(i have none)
"don't cry dear violet
you may take mine"

"o how how how
could i ever wear it now
when the boy who gave it to
you is the tallest of the boys"

"he'll give me another
if i let him kiss me twice
but my lover has a brother
who is good and kind to all"

"o no no no
let the roses come and go
for kindness and goodness do
not make a fellow tall"

lily has a rose
no rose i've
and losing's less than winning(but
love is more than love)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A aldeia III

A minha aldeia ficou ali,

pendurada numa ilha,
numa flor de laranjeira

...e no barulho do caminho.

A minha aldeia ficou ali,

suspensa do tempo e da vontade
numa azáfama perfumada

...e no som dos animais.

A minha aldeia ficou ali,

algures, num espaço que não sei
e na memória que alcanço.

Subo as escadas da capela
...e as mulheres, de negro...
estão ali, paradas, suspensas
onde o tempo as deixou,
na minha aldeia, que ficou ali,
nos seus lenços negros
que lhes cobrem as cabeças.
Num tempo findo
de juventude que (ainda) não acabou.

A minha aldeia ficou ali,
e as flores, no caminho,
revelam a procissão
onde todos comungam da fé,
do calor, da alma e do pão.

A minha aldeia ficou ali,
no som dos meus passos de criança
(que corre as ruas num sopro de vento,
onde as aves fazem ninho)...
e o tempo...não tinha fim.

A minha aldeia ficou ali,
onde velhas fotos amarelecidas
retêm o tempo numa visão diáfana
de um amanhecer desigual
(cada pedra da casa encerra
um recanto de mim, onde a aldeia ficou
num tempo suspenso
aquietado pelas memórias,
onde as mulheres de lenço negro
vão na procissão
e, lentamente, me transportam para onde estou
).

Susana Duarte

Poema de José Jorge Letria

Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono.

Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.

Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.

Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço branco na mão com as iniciais bordadas,
anunciando que vai voltar porque eu sou
[pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.

José Jorge Letria, in "O Livro Branco da Melancolia"

domingo, 16 de maio de 2010

Hoje

Há uma baga de azevinho
onde reside a infância.

Houve uma boneca de vermelho
e um gato à lareira.
Uma flor nova na clareira.

Uma ave fez um ninho na aldeia
e os sinos tocam horas de regresso.

Semeado o tempo, é hora de crescer.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Florirão, de novo, as palavras...

florirão, de novo, as palavras
semeadas

renascidas de um tempo ido,
passado

urgentes nos movimentos graciosos,
de valsa,
dançadas

na convulsão de estrelas
tremeluzentes

obstinadas nas canções que têm dentro...

sábado, 10 de abril de 2010

deixa que o vento te ponha a alma nua

Constróis cidades, onde o pântano te afunda;
(não podes construir a cidade imunda,
não podes verdejar onde a lama apodrece,
não podes cantar a alma que fenece).

Não.

Constrói, antes, um castelo de areia
(que emerge dos cantos de sereia,
que nasce da vontade de amar,
que edifica sonhos na noite de luar).

Sê.

(deixa que o vento te ponha a alma nua)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Viagem

A viagem:

de olhos escuro-claros da manhã

perscruto horizontes

procuro-te, algures, no amanhã.

...

Concretiza-se o dealbar azul

Claro-escuro depois da noite de trovoada.

Em olhos marejados de ondas

Onde vive a alvorada.

...

Que sabes tu de mim?

Que sabes tu de ti? Pobre errante

de alma perdida

isolada, ferida

de olhar distante.

...

Virás numa barca de Aurora
que o mar encheu de luz.

( Susana Duarte)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Às vezes, simplesmente, não apetece...
Não apetece estar, escrever, pensar. Apetece entrar numa dormência em que apenas o suave sol de fim de inverno, ou a suave brisa aromatizada a flores que desabrocham, nos devolvem ao mundo.
Há dias assim...em que o mundo parece ter entrado numa estranha espiral descendente, vertiginosa. Em que as pessoas desconfiam. Acusam. Desrespeitam. Se desunem. Agridem. Olham com o olhar de quem não precisa de ver porque cr~e já ter percebido tudo.
Há momentos, na História, em que as pessoas parecem perder o rumo, e se deixam levar pelos sentimentos mesquinhos de quem tem medo e se deixa invadir pelo seu lado obscuro.

E por isso, por vezes, não apetece. Simplesmente, esvaziam-nos o optismismo com a sua força negativa.
É necessário preencher as estórias de cada pessoa que cria História, com novas narrativas: as da expectativa, do optimismo, da união, da solidariedade, da verdade, da justiça. Só assim se pode colorir, de novo, a vida.

Venha a primavera e a sua cor. Precisa-se, urgentemente, de um novo sentir.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Caravelas

breve partida,
horizonte longínquo

sonhos do sonho
de navegadores antigos

águas quebradas
horizontes perdidos...

brumas de memória
de sonhos anteriores,
procura incessante
de outros amores

...longínquos
imensos...

príncipes herdeiros
odores a canela
imperadores, guerreiros
princesas de sândalo
espreitam nas janelas
vestidos ligeiros

cruzam-se horizontes
conquistam-se impérios

busca de especiarias,
procura de minérios

História construída
vivida
lembrada
Nação erguida
com vidas
documentada

( Susana)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Laurent Filipe



Pouco conhecia de Laurent Filipe. Só por isso, já valeria a pena ter seguido os "Ídolos". Quem gostar deste género de música, certamente apreciará.
Para mim, é o início de uma prazerosa descoberta.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Domingo...



Eis o que preferia fazer, neste frio Domingo de Carnaval: sentar-me numa baía, com o sol a aquecer-me o rosto, e a luz longa de um dia de Verão...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Nell, com Jodie Foster

um filme fantástico...do qual pouco se falou e que é tão difícil encontrar na internet...esta cena que apresento é das poucas que aparecem no you tube ( ou serei eu que não estou com grande capacidade para encontrar mais?).

Nell, protagonizado por Jodie Foster, Liam Neeson e Natascha Richardson, é um filme datado de 1994, relaizado por Michael Apted. Apresenta-nos uma mulher simultaneamente forte e intocada pela sociedade que conhecemos; crescida nos bosques, livre e sem pré-conceitos sobre os outros, junto da mãe, Nell é "descoberta" por dois médicos, após a morte da sua mãe. Estes procuram levá-la a socializar no mundo urbano, causando uma sucessão de acontecimentos inesperados, de descoberta de novos mundos e experiências. Nell desenvolveu uma linguagem própria, incompreensível para os estranhos, que a assumem como intelectualmente débil, até se darem ao trabalho de a conhecerem melhor. Nas selvagens Smoky Mountains, Nell vive a Natureza de forma intensa e única, inconsciente do quanto a sociedade ostraciza tudo o que lhe pareça diferente. O médico protagonizado por Liam Neeson, porém, aparece-nos como um ser humano sensível, interessado em entender quem é Nell, aquela mulher na casa dos 30 que se move de forma diferente, fala de uma forma aparentemente sem nexo e se perde em olhares vagos...
A Psicologia e a Sociologia descreveram já, muitas vezes, as crianças "selvagens", localizadas em diferentes países, que originam no espírito humano um misto de curiosidade, fascínio e comiseração...assim nos aprece Nell, como uma mulher "selvagem", mas afinal cheia de complexos significados, no mundo relacional e físico em que cresceu e desenvolveu a sua personalidade.
É assim, a partir da ideia da "criança/mulher selvagem", que se desenrola a história de Nell sob os nossos olhos e corações. Porque Nell, afinal, representa aquilo que somos: a solidão, o medo, a necessidade de nos espelharmos em alguém, a influência da nossa história de vida e dos mitos e rituais familiares na construção do nosso ser. E o crescimento. E a poesia...


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Tristão e Isolda




"Sentimento fundo de água, com a leveza do ar"...diz uma música brasileira...

Eis a bela e triste história de Tristão e Isolda:


" No pequeno porto irlandês de Wexford, onde Tristão e seus companheiros ancoraram, um cruel dragão aterrorizava os habitantes. Para não serem reconhecidos, disfarçaram-se de comerciantes.

O rei Gormond prometera dar a mão de sua filha Isolda em casamento ao valente cavaleiro que matasse o monstro. Tristão enfrentou a perigosa criatura e, após uma vitória difícil, cortou a língua do dragão e escondeu-a dentro de seu sapato: a prova decisiva. No caminho de volta, porém, caiu desfalecido, pois a língua do dragão continha um poderoso veneno.

Ao passar por ali, o senescal do rei Gormond deparou com o cadáver do monstro e aproveitou-se da situação. Cortou-lhe a cabeça e, após apresentá-la ao rei, pediu a mão da princesa Isolda, a qual cortejava havia muito tempo. Mas Isolda não o desejava como marido e desconfiou da trama. Assim, foi com a mãe até o local do combate, e ali encontraram Tristão desfalecido. Levaram-no para o palácio e, durante vários dias, cuidaram de seus ferimentos. Mas Isolda só o reconheceria quando, ao limpar sua espada, notou que faltava um pedaço. Desconfiada, comparou a lâmina com um pedaço de metal que, retirado do crânio de Morholt, fora guardado por ela como relíquia: as partes encaixavam-se perfeitamente. Tristão era o assassino de seu tio, mas, como só ele poderia provar a impostura do senescal, Isolda seguiu os conselhos da mãe e resolveu poupá-lo.

Ao saber que Tristão a pedia em casamento em nome do rei Marcos, Isolda mergulhou em profunda melancolia, mas decidiu acompanhá-lo. A rainha, que desejava a felicidade da filha ao lado do rei Marcos, confiou a uma criada uma poção mágica que os noivos deveriam beber juntos na noite de núpcias. Essa bebida, preparada à base de ervas, uniria o casal por um sentimento tão profundo que eles não poderiam sobreviver sequer a uma semana de separação.

No decorrer da viagem, porém, a criada serviu por engano a poção mágica a Tristão e Isolda. Daí em diante, nada mais poderia separá-los!

Tristão não ousou revelar a verdade ao tio, e o casamento de Isolda com o rei Marcos foi celebrado com pompa. Mas todos os dias Tristão encontrava-se secretamente com Isolda, num jardim, junto ao palácio ou mesmo nos aposentos da rainha. Apesar de todas as precauções, entretanto, os barões descobriram os encontros e alertaram o rei Marcos. Surpreendidos pelo marido traído, os dois amantes foram condenados sem julgamento: seriam queimados juntos.

Ao longo do caminho que levava à fogueira, comprimia-se uma multidão entristecida. Ao passar diante de uma capela construída na beirada de uma falésia, Tristão desejou rezar. Como seus guardiães haviam desamarrado suas mãos, conseguiu escapar e precipitou-se no vazio - mas salvou-se ao agarrar-se a uma pedra que sobressaía no paredão. Em seguida, pulou para a praia e fugiu. Mais adiante, seu escudeiro Gorneval esperava-o com cavalo e armas. Só então pôde libertar Isolda.

Durante três anos, viveram escondidos na floresta. Tristão fez um arco, com o qual nunca perdia a presa, e Gorneval construiu uma cabana de galhos e troncos. Certo dia, um cachorro juntou-se a eles - era Husdent, que reencontrava seu dono, Tristão. Husdent aprendeu a caçar sem latir, para não denunciar sua presença.

Um dia, o rei Marcos descobriu o esconderijo e encontrou Tristão e Isolda adormecidos, abrigados no simplório casebre. Sentiu pena daqueles corpos tão magros, que os andrajos mal escondiam. Anunciou então que estava disposto a receber Isolda de volta na corte. Mas Tristão deveria partir para bem longe.

A poção mágica já perdera o efeito fazia muito tempo, mas Tristão e Isolda continuavam amando-se. Assim, após a partida de Isolda, o cavaleiro tentou permanecer a seu lado, mas os espiões do rei estavam sempre em seu encalço. Por isso, ele teve de embarcar para a Armórica.

Na pequena Bretanha, Tristão colocou-se a serviço do rei Hoel, tornando-se amigo de seu filho, o cavaleiro Kaherdin. Com o passar do tempo, Tristão pensou que poderia esquecer Isolda casando-se com outra mulher. Desposou a irmã de Kaherdin, que também se chamava Isolda e era conhecida como Isolda das Brancas Mãos. Mas a lembrança da loura Isolda jamais abandonou Tristão, o que não escapou aos olhos da esposa e do cunhado.

Um dia, Tristão foi gravemente ferido pelo anão Beladis, cuja mulher Kaherdin cortejava secretamente. Pediu então ao cunhado que fosse à Cornualha buscar Isolda, a loura, pois só ela poderia salvá-lo.

Ansioso pela chegada do navio, todos os dias Tristão pedia que o levassem até a praia. Ficara combinado que Kaherdin içaria uma vela branca se Isolda estivesse a bordo e uma vela preta em caso contrário.

Mas Isolda das Brancas Mãos surpreendera a conversa e, louca de ciúmes, enganou Tristão. Quando o navio surgiu no horizonte, Tristão já estava enfraquecido demais para enxergar, e a esposa disse-lhe que uma vela negra fora içada. Tristão pensou que sua amada o abandonara e morreu de infelicidade. Ao chegar, Isolda, a loura, viu o corpo de Tristão estendido na praia, não resistiu e caiu morta junto ao amado.

Os dois foram enterrados lado a lado. O rei Marcos ordenou que se plantasse uma roseira selvagem no túmulo de Isolda e uma videira no de Tristão. Ao crescer, as duas plantas enrolaram-se uma na outra, como se quisessem ensinar aos homens que o amor: é mais poderoso que a morte. "

( retirado de edukbr-lendas e mitos)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

terça-feira, 12 de janeiro de 2010



...se eu voar, onde me levarão as asas?
Se eu souber, que saberei eu?
Se eu fôr...para onde irei?





...deixa-me ser a estrela que quero ser.
Deixa-me ser assim.
Deixa-me ser imperfeita
inquieta
indignada.

Deixa-me ser quem sou.
Por trás das gotas de chuva,
deixa-me ser assim.
Imperfeita
inacabada.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Sonho em mim

Sonho em mim


Este selo foi-me oferecido pelo blogue cujo link se encontra em cima da imagem e,orgulhosamente, exibo-o. Orgulhosa a tardiamente, alías, que ele diz ser preguiçoso para esta coisa dos selos, mas eu provei que sou mais, pois demorei 4 dias a publicar....

Sonhador, o meu sonho é absolutamente utópico e soa a concurso de Miss Universo, mas aqui vai: sonho que a minha filha possa crescer num mundo desprovido de máscaras, onde cada ser humano é leal para com os outros com quem se relaciona.

Vou passar aos seguintes blogues:
Lusibero
Infinito Particular
Um fio de silêncio
Casa Claridade
As palavras que nunca direi

(claro que deixo de fora outros tantos que o mereciam, mas não vou quebrar a regra).
Vou transcrever as regras do Sonhador, ipsis verbis, retiradas do blogue cujo link se encontra lá em cima (só para lembrar...) e no qual deverão colocar qual é o vosso sonho (não vale publicar só no vosso, certo?):

As regras que o acompanham são as seguintes:

1. Publicar a imagem do selo, as regras e colocar o link de quem passou .



2. Enumerar 1 sonho que ainda espera alcançar, e confidenciá-lo aqui http://sonhoemmim.blogspot.com/ ( neste post em forma de comentário)
A ideia é partilhar esse sonho de forma criativa para que possa reunir todos e apurar o sonho vencedor.



3. Passe a 5 blogues que considere blogues de sonho e avisá-los do prémio mencionando as regras, não esquecendo que devem partilhar o sonho aqui neste post como comentário, porque no final quem sabe se haverá alguma surpresa, para o sonho mais surrealista, ou surpreendente!

E agora...é participar!

sábado, 2 de janeiro de 2010

Cidade




(Fotos pessoais)

Hoje foi mais um dia. Feito de sorrisos, ardendo em febre de vontades por cumprir, sonhos por realizar, e emoção pelo caminho percorrido.
Brindado pelo ar frio de Inverno à beira-rio...
Em cada ângulo, a oportunidade de uma bela foto.
A cidade está ali. Silenciosa, serenamente cúmplice, sobranceira, altaneira e bela. Os fantasmas da sua história rendem-se ao pôr-do-sol. Deixam marcas da sua passagem nas estórias que se adivinham nas palavras escritas nas paredes; nos sinais de presenças antigas; nas palavras dos letreiros velhos; nas palavras faladas de boca em boca; nos cabelos tingidos de cinza de quem passou e deseja voltar; nas ruas vazias, mas cheias de memórias antigas...
Laivos de côr enchem o céu ao entardecer. Está frio. Frio azul e branco, concreto, quase palpável. Dizem que será frio, o mês de Janeiro. Seja, então. Seja frio para rostos e corpos agasalhados, que a solidão já é fria quanto baste para quem foi desprotegido pelas resoluções de Ano Novo, de anos anteriores. Os corpos sem nome que se arrastam pelas ruas velhas da cidade têm frio, mas também têm nome e alma, e histórias por contar. Querem ouvir?...
Venha o frio, pois, mas tingido de sol e mãos abertas à presença dos Outros. Os Outros, para eles, somos nós, agasalhados, acompanhados, de mão dada com quem nos é querido.
E a cidade...pois....a cidade.Bela e orgulhosa, deixa-se abraçar. Sob a ponte, o rio. Correm águas velozes. O rio vai cheio. Em redor da cidade, os campos inundam-se.
Pessoas. Em grupo, sorridentes, a esperança estampada no rosto. Oxalá que sim...que tudo corra bem. Entre alegrias e tristezas,seja o balanço, no final do ano,positivo. Que as memórias nos sustentem e sejam memórias de coisas belas. Que fiquem, em cada pedra da calçada, as mágoas. Em cada laivo de côr, uma lembrança feliz. Em cada gota do rio, uma história para contar, feita de sorrisos cúmplices e de presenças. Afinal, é isso que importa. Não estarmos sós. Termos a quente presença da família e amigos ao nosso lado.
Brindemos, pois.
Que as ruas da cidade ecoem, também, os nossos risos.

 metade de mim é silêncio. onde o silêncio habita as margens das veias, habita igualmente o mar tempestuoso  dos meus pensamentos. metade de...