Pergunto-me de onde me olhas.
Sei que as cores dos dias precisam do sopro quente do hálito dialogante, para que se possa acreditar na vida. E, todavia, acredito que me ouves. Que, porventura, nos vês, na azáfama diária de tentar perceber.
De todos os confins, habitas o mais misterioso, o desconhecido, aquele que nos faz questionar o motivo das caminhadas apressadas que fazemos pela vida.
De todos, habitas os confins mais aquáticos, originais, aqueles que nos tragam, embora seja da água que, também, viemos.
Pergunto-me se me ouves, e com que olhos me percecionas.
Todas as madrugadas são um penhor à tua vida, vida entretecida nos corredores brancos da solitária aventura de querer viver, e nos corredores rosa da tua juventude. De que cor se vestem, agora, as malhas do teu olhar?
Pergunto-me se sabes o quanto gostamos de ti.
No eco mudo das encostas onde, agora, se encontram as vestes brancas com que te cobriram, procuro ouvir o som ridente da tua voz. Sabes o quanto gostamos de ti? Sabes o quanto queríamos, ainda, sorrir a teu lado?
Pergunto-me, e nada sei desse lugar onde, serena, fazes ecoar os teus passos na Eternidade.
E, todavia, creio. Creio na tua presença-flor-eterna nos corações onde, indelével, deixaste a marca da tua vida.
Pergunto-me se sabes onde estamos, porque habitamos um piso inferior àquele onde, doravante, moves, ágil, a tua alegria. Creio que nos olhas, olhar negro da imensidão da tua força, olhar meigo da negritude maravilhosa da tua pele, olhar eterno com que, agora, escrevo as saudades que temos de ti.
Até sempre, pequena, maravilhosa, e imensa amiga.