GENCIANA
queria uma palavra azul para te descrever as sílabas que, de
ti, vejo sair,
como aves que exploram o infinito. trémulas, no início,
inseguras da paixão;
seguras quando, eternas, se deitam na minha mão e atingem o
seu devir.
eu e tu somos uma flor gamopétala.
descreves em mim linhas. voas-me nos dedos das pálpebras dos
sonhos
e procuras-me, no rosto, o sorriso crescente da
estranheza-encantamento;
seguras-me as mãos quando navego à procura de sílabas e de medronhos
que descasco, um a um, nas mãos que ocupo com a imagem do
teu lamento
quando a vida, por breves momentos, tolheu de nós as
palavras e os voos.
eu
e tu somos uma flor gamopétala.
escrevemos páginas de sonhos em folhas de flores azuis e em
sombras
de noites irrequietas. Sábias são as cores místicas do sonho
– horizonte
onde as asas encontram as sílabas e as sílabas se tornam o
teu nome…
és a palavra que nunca se esconde, a floresta de árvores sem penumbras
onde me deito, aliada das asas de um anjo como se o anjo
fosse a fonte
da vida quem em mim almejas. em mim, tiras a sede e matas a
fome.
eu e tu somos uma genciana azul.
do azul-maravilha e
espanto, nasceu uma ilha e a terra de uma sonolência
serena, que nos transformou na etérea luz de uma sombra
chinesa, onde
nos escondemos para viver
a esplendorosa cor azul-onírico de palavras-sonho.
Eu, e Tu, somos o Sonho
consubstanciado no encontro das marés,
e na confluência dos
toques,
e nos remos.
Pescadores de Fosforescências
Alphabetum Edições Literárias
ISBN: 978-989-8590-02-2